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JADE LUÍSA
(BRASIL – RIO GRANDE DO NORTE)
Nasceu em Natal (RN) e radicou-se na capital do país (Brasília – Distrito Federal).
Estuda na Universidade de Brasília (UnB), tem uns pares de poemas publicados em revistas virtuais e participou de antologias As luas: o amor e suas variações (Lumme, 20200 e No meio do fim do mundo (Elã, 2022).
É autora do livro O olho esquerdo da lua (Penalux, 2021).
DANIEL, Claudio. NOVAS VOZES DA POESIA
BRASILEIRA. Uma antologia crítica. Capa: Thiti
Johnson. Cajazeiras: Arribação, 258 p.
ISBN 978-85-6036-3333365-6
Exemplar biblioteca de Antonio Miranda
O OLHO DA SUCURI
ao poeta Claudio Daniel
Fogo no centro do corpo
Corpo na ponta da bala
Água na bala do corpo
Bicho na fome do fogo
Corpo na ponta da faca
Fome na água do corpo
Morte no olho do bicho
Bicho na fome do povo.
MONÓLOGO AO FIM DO MUNDO
I.
jamais imaginei que você fosse tão lento
nenhum samba é tanta madrugada
II.
quando você aparece
sopitando como se nada fosse acabar
são as cidades que morrem
não aquelas que nascem do ilegível, mas aquarelas
que engolem gente
todo mundo sabe que as cidades nasceram para morrer
a história estremece o chão como
elefante centenário empalado
pelo próprio marfim
III.
não há fim do mundo que me faça esquecer o se dengo
não há fim do mundo que me faça perder a fome de feijão
com angu
não há fim do mundo que não habite o oco dos ossos
não há fim do mundo que reconquiste o litoral sergipano
nem tiroteio que extermine limo
jamais imaginei que você fosse tão lento
nenhum tiro mata tão devagar
nenhuma língua demora tanto à deriva
nenhum samba demora tanto o choro
IV.
há tantas cores no vento do fim do mundo que já não parece
vento, nem abismo, nem morte
deixo escapar da boca
o que seria rosto-de-vento
invento nova língua
aquela que não pude inventar enquanto amava
—quem ama inventa línguas todos os dias
e esquece a cada madrugada
V.
o fim do mundo me parece como humildemente
encarar a gota que cai da calha
e se vê cada vez mais próxima de ser
quase morte
DO INDIZÍVEL
permanece o inverso dos cias
aquele soslaio, a lombar retorcida
e a morte das noites frugais
insistem na queda os arranha-céus
insiste no vazio o salto inaudito
insiste na fumaça a garganta tingida
se houvesse mesmo força para renegar
a cartografia dos impérios distantes
o abandono da semiótica
seriam menos terríveis os dias alegres
permanece a assimetria movediça
das arestas do corpo
e o timbre de Gal, aquela curvatura
o sublime que também insiste
em expiação
*
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Página publicada em setembro de 2024
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